Professor do Colégio IESFA de Várzea do Poço concede entrevista para Jornal de Brasília, confira;
Leon Cardoso da Silva professor
do Colégio IESFA de Várzea do Poço, escritor, pesquisador, poeta e músico. Natural
da cidade de Jacobina, interior da Bahia. Possui graduação em Letras Vernáculas
pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Junto a esta universidade
desenvolveu o trabalho de pesquisa “Literatura Popular: da historiografia
literária ao ensino em escolas da roça” vinculado à FAPESB e ao programa de
pós-graduação desta mesma universidade.
Escreveu seus
primeiros versos em 2003 e, por incentivo de três escritores (Evan do Carmo,
Anderson Braga Horta e Valdeck Almeida de Jesus), publicou seu primeiro livro
em 2012, intitulado “À margem do impossível” (poemas). Tem diversos textos
publicados em periódicos como também em sites especializados em literatura. É
autor dos livros: “Ensaios literários e filosóficos” (ensaios), “O Solitário
Mário” (romance), “Literatura de Cordel: uma questão da historiografia
literária brasileira” (crítica literária). “A máquina do mundo” (contos), Barco
a vela, Etnografia do instante, À procura da poesia, Chuva de pedra, Poemas
ásperos, Monólogos (todos de poemas), entre outros.
Da
Redação do Portal do Alto Alegre
Informações:
Correio Brasília
Vamos
explorar o pesquisador: Como você descrever a poesia? Ela está acima de todas
as outras artes, ou é ela a única arte que se exprime de tantas outras formas?
Descrever o que seja poesia
é tarefa das mais fáceis e ao mesmo tempo das mais difíceis. Isso porque
comumente não se fazem uma separação entre poesia e poema. Nas universidades,
sobretudo nos cursos de letras, isso já foi bastante discutido e tenho uma grande
tendência em pensar na mesma perspectiva do teórico Octavio Paz. Para mim,
poesia é um estado poético e poema é a materialização deste estado. Em outras
palavras, poesia é a sensação de beleza, de nostalgia, de contemplação, etc.
Enquanto que poema é o texto escrito tendo como ponto de partida diversos
estímulos proporcionados por esse estado poético. Nesse sentido, a poesia pode
estar presente na música, no romance, nos discursos e na natureza de uma forma
geral porque ela é a mais intensa das manifestações de beleza estética. Como
poesia não é uma arte, visto que ela seja antes um estado de contemplação
estética e não uma manifestação artística, ela não pode estar acima de alguma
arte específica. Eu diria que a poesia é o fim último de qualquer arte e nesse
sentido ela é superior a todas elas.
É
possível conciliar a criatividade poética, que tanto depende de silêncio com o
teu ofício de professor?
Como dizia o grande Fernando
Pessoa: “ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar só”. Penso
que toda criação literária precisa de silêncio. Ainda que saiamos pelas ruas,
como Charles Baudelaire fazia, para buscarmos “inspiração” para a escrita
precisaríamos ainda assim do recolhimento para a produção escrita. O ofício de
professor é também algo que se dá entre o silêncio e o barulho (risos). Talvez
minha criatividade poética seja proporcional ao nível de silêncio que preciso
para a produção escrita, mas isso não é uma obrigatoriedade para esta produção.
Em
tuas pesquisas, talvez tenhas base para indicar o que é boa literatura
brasileira. Pode nos dizer se descobriu algum escritor contemporâneo com
potencial de se tornar um grande clássico como Machado de Assis?
O limite entre boa e má
literatura é muito tênue. Muitas vezes depende de como entendemos o que seja a
literatura. Anteriormente eu havia me referido ao fato de que poesia seja um
estado poético e poema seja a materialização desse estado. Isso não quer dizer,
entretanto, que todo e qualquer poema seja repleto de beleza e de estímulos poéticos.
Isso significa que pode haver um poema sem poesia. É a morte do poema. Um texto
literário que não consiga transmitir certos estímulos de contemplação e
satisfação poética, isto é, que não nos toque a sensibilidade a ponto de
sentirmos sensações como as do belo e do sublime, esse texto poderá ser
enquadrado como uma literatura inferior. Se analisarmos a literatura
contemporânea veremos diversos textos que não conseguem alcançar seus objetivos
e perdem-se na perspectiva do próprio ator. Até me atrevo a dizer que nunca se
descobriram tantos escritores como em nossa atualidade. Isso porque a internet
proporciona essa expansão e exposição de textos literários diversos e atuais.
Acontece que divulgação não implica em qualidade estética. Por isso, não acredito
que em nossa contemporaneidade exista algum escritor com potencial para se
aproximar de Machado de Assis que foi o maior escritor da literatura
brasileira.
Morando
no nordeste brasileiro, lugar de dificuldades econômicas, como consegues
divulgar e vender os teus livros?
Exatamente, o nordeste,
sobretudo o sertão nordestino, apresenta sérias dificuldades econômicas. No meu
caso, essa dificuldade se dissipa, em partes, porque a internet proporciona
chegarmos longe, no que ser refere à divulgação literária. Além disso, há a
possibilidade do autor mesmo vender seus livros nas ruas. Foi isso que fiz ao
publicar meu primeiro livro, os quais vendi mais de 40 exemplares em uma única
semana. É isso que nossos escritores cordelistas fazem.
Como
professor, procuras influenciar os teus alunos a se tornarem poetas e
escritores? Como fazes? E eles têm reagido?
Sempre procurei influenciar
meus alunos não só a se interessarem pela literatura, mas também em produzirem
seus próprios textos. Mas confesso que não é tarefa das mais fáceis (risos).
Até estou escrevendo um livro sobre o fracasso do sistema educacional
brasileiro onde faço uma reflexão sobre isso. Este sistema educacional está
repleto de tradicionalismos que não estimula o aluno a pensar por si próprio, a
querer interferir no mundo, a se desapegarem do fácil e do conveniente. A maior
parte dos alunos está interessada apenas em adquirir notas para serem
aprovados. Esta é a perspectiva que estão acostumados e que suas famílias, as
que se interessam pelo desenvolvimento intelectual dos filhos, que é a menor
parte, exigem. Mas estou remando contra a corrente e tenho tido alguns
resultados satisfatórios. Nas minhas atividades procuro ser dinâmico e exploro
os meios mais significativos para eles, como leitura de textos na internet e
livros impressos, levo meus próprios livros e, com isso, eles percebem que
também podem escrever.
Descreva para nossos
leitores, com o teu olhar apurado de poeta, de águia social, qual é a real
situação do Brasil político nesta região?
A região em que moro está
localizada no oeste baiano, mais precisamente no interior da Bahia a cerca de
250 quilômetros de Salvador que é a capital desse estado. A situação política
dessa região é marcada por polaridades regionais, mas a presença mais forte é
do estado e do governo federal. As prefeituras não têm autonomias por que
precisam dos aspectos fiscais e econômicos. Isso faz com que o cenário político
se desenhe com a presença, sobretudo, dos deputados estaduais e federais. Quando
a região elege, por exemplo, um deputado federal ou estadual do próprio lugar
geralmente este consegue dar um destaque maior para a região, diferentemente
dos que aparecem buscando apenas alianças políticas. Portanto, nessa região o
estado e o governo federal só tornam-se presentes quando há a presença mais
significativa dos deputados.
Qual
deve ser o papel do intelectual brasileiro, no teu ponto de vista, sobre as
questões políticas atuais?
O intelectual brasileiro tem
a obrigação de interferir em qualquer questão política da atualidade. Isso
porque o intelectual não pode estar alheio a realidade. Ele tem autonomia para
pensar por si próprio, ao passo que a maior parte das pessoas comuns
infelizmente não tem. Isso faz da intelectualidade um sacerdócio ou uma
responsabilidade.
Indique para nós as tuas
referências literárias.
Sempre li muito. Com os
livros descobri que não preciso viver cinquenta anos para aprender determinadas
coisas. O que muitos aprendem em uma vida, certamente outros aprendem apenas
com a leitura de um bom livro. Portanto, a leitura foi uma das minhas mais
importantes decisões. Por isso, leio sobre diversas áreas diferentes. Com
relação à literatura minhas referências como escritores foram: Graciliano
Ramos, Machado de Assis, Octávio Paz, Manuel Bandeira, Victor Hugo, Cruz e
Sousa, Castro Alves, Rubem Fonseca, Mário Quintana, Vinicius de Moraes, Cecília
Meireles, entre outros.
Indique também onde
encontrar teus livros.
Meus livros podem ser
encontrados no Clube de Autores pelo site: www.clubedeautores.com.br ou através
do link https://www.clubedeautores.com.br/authors/10208
E pelo blog: www.marbravio.blogspot.com
E pelo blog: www.marbravio.blogspot.com
Poemas
de Leon Cardoso
EPITÁFIO
DE POETA
Aqui jaz um poeta
Com sua métrica amada
Guardando consigo
Sua prosa versificada.
Com sua métrica amada
Guardando consigo
Sua prosa versificada.
Aqui jaz um poeta
Com seu lamento
Metrificando engenhoso
O pensamento.
Com seu lamento
Metrificando engenhoso
O pensamento.
Aqui jaz um poeta
Com sua forma
Que morreu de enfarte
Pela arte.
Com sua forma
Que morreu de enfarte
Pela arte.
Aqui jaz um poeta
Com seu canto
Que não saiu
De um pranto.
Com seu canto
Que não saiu
De um pranto.
Aqui jaz um poeta
Com seus amores
Que não saiu
De suas dores.
Com seus amores
Que não saiu
De suas dores.
Aqui jaz um poeta
Com sua parte
Com sua linguagem
Com sua arte.
Com sua parte
Com sua linguagem
Com sua arte.
Aqui jaz um poeta
Com seu suporte
Que bem versou
Até sobre a morte.
Com seu suporte
Que bem versou
Até sobre a morte.
Aqui jaz um poeta
Bem adequado
Que honrou as gentes
De seu estado.
Bem adequado
Que honrou as gentes
De seu estado.
Aqui jaz um poeta
Comovido
Que decidiu
Ser atrevido.
Comovido
Que decidiu
Ser atrevido.
Aqui jaz um poeta
Com sua lousa
Onde escrevia
Suas coisas.
Com sua lousa
Onde escrevia
Suas coisas.
Aqui jaz um poeta
Em sua dormida
Que bem soube
Viver a vida.
Em sua dormida
Que bem soube
Viver a vida.
Aqui jaz um poeta
Eu asseguro
Que da poesia
Construiu um escudo.
Eu asseguro
Que da poesia
Construiu um escudo.
Aqui jaz um poeta
Que se afeta
Com seu pensar
Como um asceta.
Que se afeta
Com seu pensar
Como um asceta.
Aqui jaz um poeta
Com sua luz,
Mas não sabe
Do peso da cruz.
Com sua luz,
Mas não sabe
Do peso da cruz.
Aqui jaz um poeta
Que não definha
Se eternizando
Na entrelinha.
Que não definha
Se eternizando
Na entrelinha.
Aqui jaz um poeta
Sem covardia
Bem acomodado
Nesta moradia.
Sem covardia
Bem acomodado
Nesta moradia.
Aqui jaz um poeta
Acrobático
Pois se equilibrou num verso
Sistemático.
Acrobático
Pois se equilibrou num verso
Sistemático.
Aqui jaz um poeta
Não sei se ateu
Mas não era
Europeu.
Não sei se ateu
Mas não era
Europeu.
Aqui jaz um poeta
Que abdica
Toda a fama
De uma vida.
Que abdica
Toda a fama
De uma vida.
Aqui jaz um poeta
Com sua idealização,
Mas ainda bate
Seu coração.
Com sua idealização,
Mas ainda bate
Seu coração.
Poeta não morre
Apenas passa para um estado
Versificado.
Apenas passa para um estado
Versificado.
PARA
AUGUSTO DOS ANJOS
Somos filhos do carbono e do amoníaco.
Interrogações hipocondríacas.
Somos sopros análogos a ânsias
Células nervosas, cardíacas.
Interrogações hipocondríacas.
Somos sopros análogos a ânsias
Células nervosas, cardíacas.
Somos todos noctívagos errantes
Que ficam por trás de um cigarro
Quando a exata boca de “Deus”
Ensaia seu mais que divino escarro.
Que ficam por trás de um cigarro
Quando a exata boca de “Deus”
Ensaia seu mais que divino escarro.
Somos todos forasteiros
Vivendo neste mundo como fera
Esperando o fim que tudo acera.
Vivendo neste mundo como fera
Esperando o fim que tudo acera.
Somos todos de ruínas constituídos.
Vivemos insondáveis na espera
Sob “a influência má dos signos do zodíaco”.
Vivemos insondáveis na espera
Sob “a influência má dos signos do zodíaco”.
NÃO SEI
Para Cecília Meireles
Não sei se fico
Não sei se passo,
Não sei qual a cadência
Deste compasso.
Não sei se passo,
Não sei qual a cadência
Deste compasso.
Não sei se a vida
É um rio raso,
Não sei se o tempo
Abarca o todo
Neste campanário.
É um rio raso,
Não sei se o tempo
Abarca o todo
Neste campanário.
Não sei se fico,
Não sei se passo,
Não sei se me construo
Ou me desfaço.
Não sei se passo,
Não sei se me construo
Ou me desfaço.
Não sei, não sei
E isso é tudo.
Só sei que um dia
Estarei mudo.
E isso é tudo.
Só sei que um dia
Estarei mudo.
Professor do Colégio IESFA de Várzea do Poço concede entrevista para Jornal de Brasília, confira;
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